SPA DENUNCIA: “GOVERNO TRUMP CONTRIBUI PARA DIVIDIR O MUNDO E AFETAR A CULTURA E A ARTE”
A Sociedade Portuguesa de Autores – SPA, publicou um documento cujo teor, adaptado à fala brasileira, assim reproduzimos:
“Em atenção às responsabilidades internacionais que lhe cabem, na presidência no Comitê Europeu de Sociedades de Autores da CISAC, na Direção do Grupo Europeu de Sociedades de Autores, com sede em Bruxelas, e na Direção do Writers and Directors Worldwide, a SPA encara com justificada e legítima preocupação a ação legislativa e toda a intervenção política do presidente Donald Trump. Considera que ela já está introduzindo graves fatores de divisão, de ódio e de suspeição que, além de afetarem os equilíbrios geo-estratégicos mundiais, irão causar incalculáveis prejuízos no mundo cultural e artístico.
As vozes dos representantes desse setor têm-se feito ouvir com veemência e indignação, demonstrando à opinião pública internacional que os criadores culturais e os artistas já são, neste momento, a primeira linha de resistência ao pensamento de extrema-direita de que Donald Trump se tornou símbolo e bandeira agressiva.
Escritores, músicos, artistas de cinema e de televisão, com destaque para a intervenção da atriz Meryl Streep, têm denunciado os abusos e agressões perpetrados pela Casa Branca. Grandes museus, empresários midiáticos, produtores de cinema e de televisão, organizadores de festivais de cinema e de teatro e um grande número de jornalistas têm vindo a denunciar a gravidade da situação causada pelas medidas proclamadas por Trump para travar a livre circulação de autores e artistas, o que, como se sabe, irá afetar a própria cerimônia da entrega do Oscar da Academia em Los Angeles. Lembramos que os Estados Unidos são uma nação criada por imigrantes; e que foram e são eles, com o seu reconhecido talento, que construíram também o prestígio da América.
Numa sociedade global, evitar a livre circulação de cidadãos e gente da criação e das artes, além de ser um preocupante sinal de totalitarismo, abre portas para outras formas de discriminação que não deixarão de se refletir no mundo da gestão coletiva do direito de autor, ameaçando ou destruindo conquistas alcançadas pelas sociedades autorais, incluindo as norte-americanas, em muitas décadas de diálogo e trabalho intenso. A qualidade destas posições foi destacada nas reuniões internacionais da CISAC realizadas em Washington em 2009 e em 2012, nas quais a SPA esteve presente e interveio.
A SPA, no pleno e legítimo exercício de suas funções, não deixará de tomar posição em relação a estas situações, notadamente no princípio de abril próximo em Moscou, onde José Jorge Letria presidirá a assembleia geral anual do Comitê Europeu da CISAC, partilhando também estas posições com os seus parceiros lusófonos, principalmente os de Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique e Timor Leste.
Considera a SPA que as Américas e o mundo vivem agora momentos de compreensível apreensão e receio, que podem abrir portas para brutais formas de discriminação e injustiça e mesmo para conflitos cuja dimensão e alcance são, neste momento, imprevisíveis.
Os autores portugueses tudo farão, na justa medida da suas possibilidades, para resistir a este modelo violento e divisionista de governo, também porque alguns membros desta comunidade vivem e trabalham nos Estados Unidos; e porque a democracia não pode pactuar com situações que a afetam e podem vir a destruir.
Lisboa, 1º de Fevereiro de 2017.
a) O Conselho de Administração”.
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Nº 134 | 02/02/17 | Pág. 4