Há já alguns anos, o Centro Popular de Cultura da União Metropolitana de Estudantes, de São Paulo, destaca-se como um dos núcleos irradiadores do melhor pensamento analítico sobre cultura de massas e indústria cultural no Brasil. Parceira da AMAR desde os primeiros tempos, em 2004 a entidade fixava posição irretocável e contundente sobre a questão da comercialização, no Brasil, de cópias falsificadas de suportes contendo fonogramas de obras musicais protegidas.
Naquela oportunidade, os estúdios de gravação e as empresas que copiavam os CDs e DVDs não estavam mais necessariamente, como no início, dentro das gravadoras. Estas tinham deixado de ter não só o monopólio sobre os meios de produção, como já tinham desativado total ou parcialmente seus grandes parques industriais.
Paralelamente, os artistas já conseguiam produzir seus discos fora das gravadoras. E isto fortalecia os portadores de cultura, inteligência e sensibilidade musicais em relação aos detentores do capital. Assim, surgiram dezenas de gravadoras nacionais e centenas de artistas independentes cuja produção, tomada em conjunto, ultrapassou largamente a das cinco irmãs, tanto em qualidade quanto em quantidade. Como exemplo, veja-se que, de janeiro a junho de 2004, para cada novo lançamento das “majors”, as independentes lançaram pelo menos cinco títulos.
Perdendo o controle sobre a oferta, as grandes gravadoras deslocaram o peso de seu poder econômico para açambarcar o espaço público da comunicação e manipular a demanda, a fim de manterem o monopólio sobre a venda de CDs. Aí, qualidade e diversidade, marcas registradas da música brasileira, foram substituídas pelo seu avesso, nos meios de comunicação e nas prateleiras das lojas. Os diretores artísticos das grandes gravadoras cederam lugar aos gênios do marketing. Os casts minguaram. E chegamos aos dias de hoje.
Tudo isso sem que as autoridades da Cultura e da Economia tenham se dado conta de que a Música Popular Brasileira, por sua vasta riqueza, diversidade e qualidade e do reconhecimento internacional de que desfruta, é um dos mais importantes ativos econômicos deste País.
N.R. Este texto tem por base o artigo “A pirataria de CDs e o flagelo do ‘Jabá”, de autoria do jornalista Sérgio Rubens de Araújo Torres, acessado em www.horadopovo.com.br/2004/julho/07.07.04.
Nº 132 | 15/12/16 | Pág. 3