O PIANO
(Jorge Roberto Martins)
sei de tuas cordas cobertas de madeira e pó
dos teus acordes tremores, o incontido som
sei do teu corpo harmônico, meu desatino
o toque soando os rumores, a corda
vibra por versos dolentes
adágios de uma impressão
e as mãos passeando em teu rosto subindo sustenidas, descendo bemóis
velho e novinho em folha brilhantemente negro e formoso
a um só tempo solene e íntimo
dos séculos e dos amanhãs
às vezes não me dou conta e te belisco num descuido do tampo, do tempo
e o som pizzicato ressoa
mesmo tímido, imenso pra mim
lá embaixo, meus pés sobre os teus aumentam e sustentam a tensão
por vezes abafam, e aí sussurros
minhas mãos em tua fronte, tua frente
seus oitenta e tantos humores
às vezes contidos, graves, noturnos
às vezes escancarados, agudos, solares
quando médios, sorrisos quando todos, tudo


Meu coração não parou, acelerou-se. Consegui freá-lo a tempo. Mas as lágrimas…ah, estas fizeram a festa.
O piano agradece de tampa aberta e sonoridade que só ele tem. Eu o acompanho no agradecimento. Confesso, me emocionei.
Abraços a todos.
(Ô Neilô, você é fogo…goiabada cascão em caixa, coisa fina e de se admirar)