Temos o enorme prazer de registrar o ingresso no quadro social da AMAR de dois nomes de peso na música popular brasileira: Aluisio Machado e Sebastião Tapajós.
Nascido em Campos dos Goitacazes em 1939, Aluisio Machado veio para o Rio ainda menino. Tanto que já aos 14 anos “saía” no Império Serrano, de onde foi, mais tarde, para a Imperatriz Leopoldinense, onde foi passista e mestre-sala. Mas a escola do bairro de Ramos foi apenas uma rápida digressão, como foi também sua relação com a Unidos de Vila Isabel, nos anos 70. Porque o Império “tocou reunir”, como canta um dos hinos da escola da Serrinha. E então, eis o filho pródigo de volta para, na Ala de Compositores, cumprir uma trajetória fulgurante. Tanto que, de 1980 a 1990, dos onze sambas com que a escola desfilou, só quatro não levaram sua assinatura. E, de lá pra cá, foram mais outros tantos.
E tudo começou com o antológico Bumbum praticumbum prugurundum, em 1982, em parceria com o indescritível Beto Sem Braço, numa ligação que vinha lá da Vila. Ligação estreita essa! Que deu ensejo, inclusive, a um dos versos mais geniais da história do partido-alto, que vai aqui reproduzido de memória:
“Sou Aluisio Machado
Comigo não tem embaraço
Eu sou com todo o respeito
O braço direito
Do Beto Sem Braço”
Entretanto, embora seja este o Aluisio que todo mundo lembra e gosta, existe um outro, que os militares de 68 detestavam. Pois, embora “sambista de morro” futucava o “Brasil, ame-o ou deixe-o” com versos assim:
“Não eu não saio daqui
Pois aqui é meu torrão
(…) Aqui minha mãe me pariu
Minha mãe pariu meu irmão...”
Ou assim:
“Quem tem muito quer ter mais
Quem não tem resta sonhar
Quem não estudou é escravo
De quem pode estudar
Os direitos humanos são iguais
Mas existem as classes sociais
Eu não sou de guerra quero paz
Quero trabalhar pra poder ter
É tendo que a gente pode dar
Eu quero ser livre e liberar…”
Era o Samba engajado na luta pela redemocratização do País. E mesmo “protestando”, o nosso Aluisio ainda acabou vencedor do programa “A Grande Chance” do udenista Flávio Cavalcanti, em 1974, na TV Tupi, de onde seguiu em frente, com seu repertório cada vez mais enriquecido.
Em 1981, no LP “Na fonte”, Beth Carvalho incluía “Escasseia”, música sua em parceria com Beto Sem Braço e Zé do Maranhão; e nesse mesmo ano, Alcione registrava “Minha filosofia”. Na década seguinte, para o carnaval de 96, o poeta emplacava, agora com a parceria, entre outros, de Arlindo Cruz (Beto Sem Braço falecera três anos antes) um samba-enredo bem ao seu jeito: “E verás que um filho teu não foge à luta”, premiado com o “Estandarte de Ouro”, de O Globo, como o melhor samba do grupo especial naquele ano, quando Aluisio fez jus a um troféu que, aliás, recebeu ainda mais três vezes.
Em 2001, num projeto do saudoso produtor Paulinho Albuquerque, vieram os espetáculos da série “Meninos do Rio”, no palco do Centro Cultural Banco do Brasil, com Dona Ivone Lara, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Jurandir da Mangueira e Monarco, entre outros. Os shows renderam um CD antológico, produzido pela gravadora Carioca Discos. E nesse mesmo ano, Aluisio registrava para a posteridade um depoimento no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.
No ano de 2011 foi finalizado o documentário em média-metragem “O Famoso Aluisio Machado”, com episódios da carreira do sambista. E no momento deste texto, ocorrem os eventos de lançamento da biografia “Aluisio Machado – Saudações Imperianas”, de autoria da jornalista Catarina Maul.
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Sebastião Tapajós nasceu em Alenquer, Pará, em 1944. E embora a coincidência de seu sobrenome com o do inesquecível presidente de honra da AMAR, Maurício Tapajós, não se deva a parentesco próximo, muitas afinidades ligam os dois, principalmente na brasilidade e na tradição musical familiar.
Pois aos nove anos de idade, pelas mãos do próprio pai, agora na cidade de Santarém, o menino começava a aprender violão. Daí, passados vinte anos, foi estudar na Europa, onde se formou pelo Conservatório Nacional de Música de Lisboa. Depois, na Espanha, estudou guitarra com Emilio Pujol e cursou o Instituto de Cultura Hispânica. Assim preparado, realizou recitais nesses dois países; e, de regresso ao Brasil, assumiu a cadeira de violão clássico do Conservatório Carlos Gomes de Belém, onde lecionou até julho de 1967.
Artista múltiplo, transitando com facilidade entre as salas de concerto e os auditórios da música popular, Sebastião Tapajós tornou-se consagrado na Europa, onde se apresentou inúmeras vezes durante as últimas décadas, particularmente na Alemanha, realizando todos os anos pelo menos duas turnês internacionais, nas quais divulga seus discos, que hoje somam mais de cinquenta títulos. Também no exterior, apresentou-se ao lado de grandes nomes como o saxofonista Gerry Mulligan, o pianista Oscar Peterson e o bandoneonista Astor Piazolla. E isto da mesma forma que, no Brasil, atuou ou gravou com músicos não menos importantes como Gilson Peranzetta, Hermeto Pascoal, Joel do Bandolim, Maurício Heinhorn, Paulo Moura, Sivuca, Waldir Azevedo, Zimbo Trio, etc.
Para o cinema, em 1998 Tapajós compôs a trilha sonora do longa-metragem “Lendas Amazônicas” produzido em seu estado natal. Em teatro, apresentou em 2005, com a bailarina Carmen Del Rio, o espetáculo “O Violão e a Bailarina”, no Rio de Janeiro. E, ainda no disco, produziu e lançou os CDs “Cordas do Tapajós” e “Conversas de Violões” com Sérgio Ábalos (2011); “Suíte das Amazonas”; “Painel” (importante LP remasterizado e lançado em CD, 2012), “Da Lapa ao Mascote” e “Sebastião Tapajós e amigos solistas” (DVD, 2013)
No âmbito da canção popular, o grande violonista é autor de canções em parceria com Paulinho Tapajós (irmão de Maurício) e Billy Blanco, entre outros… Algumas delas foram registradas em disco por intérpretes do quilate de Emilio Santiago, Fafá de Belém, Jane Duboc, Miltinho e Pery Ribeiro.
Pela excelência de seu trabalho, em 2013 Sebastião Tapajós foi duplamente distinguido com o título de doutor honoris causa: pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) e pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
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O ingresso no quadro social da AMAR de excelentíssimos criadores cidadãos como Aluisio Machado e Sebastião Tapajós é motivo de orgulho para todos nós. Sejam bem vindos!
Os dois são muito lindos e encantadores!